No Brasil, o escritor que mais se aproximou do movimento expressionista foi Augusto dos Anjos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A OBSESSÃO DO SANGUE 

Acordou, vendo sangue... Horrível! O osso 
Frontal em fogo... Ia talvez morrer, 
Disse. Olhou-se no espelho. Era tão moço, 
Ah, certamente não podia ser! 

Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço, 
Na mão dos açougueiros, a escorrer 
Fita rubra de sangue muito grosso, 
a carne que ele havia de comer! 

No inferno da visão alucinada, 
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada, 
Viu vísceras vermelhas pelo chão... 

E amou, com um berro bárbaro de gozo, 
O monocromatismo monstruoso 
Daquela universal vermelhidão! 
 

A DOR
 
Chama-se a Dor, e quando passa, enluta
E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta
E há de beber até o fim da taça!
 
Há de beber, enxuto o olhar, enxuta
A face, e o travo há de sentir, e a ameaça
Amarga dessa desgraçada fruta
Que é a fruta amargosa da Desgraça!
 
E quando o mundo todo paralisa
E quando a multidão toda agoniza,
Ela, inda altiva, ela, inda o olhar sereno
 
De agonizante multidão rodeada,
Derrama em cada boca envenenada
Mais uma gota do fatal veneno!