Obras: Guillaume Apollinaire
As Mamas de Tirésias
(...)
"Teresa
Quero ser soldado um dois um dois
Quero ir para a guerra (trovão ) e não ter mais filhos
Não senhor meu marido não mandará mais em mim
(curva-se três vezes de costas para o público )
(no megafone )
Não será porque me fez a corte em Connecticut
Que lhe quero fazer a comida em Zanzibar
Voz do marido
(sotaque belga )
Quero toucinho já disse toucinho
(louça quebrada )
Teresa
Estão ouvindo
ele só pensa em amor
(tem uma crise de nervos )
Mas não desconfia imbecil
(espirro )
Que depois de soldado quero ser artista
(espirro )
Perfeitamente perfeitamente
(espirro )
Quero também ser deputado advogado senador
(dois espirros )
Presidente da república
(espirro )
E quero como médico do físico ou do psíquico
Perambular à vontade pela Europa e a Martinica
Pois ter filhos cozinhar é uma coisa impudica
(cacarejo )
Quero ser matemático filósofo analista
Garçom nos restaurantes telegrafista
E se quiser manter num apartamento
Essa velha dançarina cheia de talento
(espirro cacarejo )
(imita a seguir o ruído do trem )
Voz do marido
(sotaque belga )
Quero toucinho já disse quero toucinho
Teresa
Estão ouvindo
ele só pensa em amor
(pequena ária de gaita )
Pois cave o chão com o focinho
(bumbo )
Mas creio que minha barba está crescendo
Meus seios se desprendem
(dá um grande grito e entreabre a blusa,
de onde saem os seios, um vermelho
outro azul, que, soltos, se põem a voar
balões de crianças, presos por fios )
Voai pássaros da minha franqueza
Et Caetera
Como são lindas as iscas femininas
Que lindos
Tão cheios
Tão apetitosos
(faz dançar os balões, puxando-os pelos fios )
Mas chega de tolices
Deixemo-nos de aeronáutica
Há sempre alguma vantagem em praticar a virtude
O vício é afinal de contas uma coisa perigosa
Por isso é melhor sacrificar esta beleza
Que pode dar oportunidade ao pecado
Livremo-nos de nossas mamas
(acende um isqueiro e fá-las explodir; faz uma careta aos espectadores e atira-lhes as bolas que traz no sutiã )"
(...)